quarta-feira, 4 de maio de 2016

Histórico da Bioética no Mundo e no Brasil

No mundo

O termo 'Bioética' foi empregado pela primeira vez somente em 1927, embora a bioética se baseie no Iluminismo (séculos XVII e XVIII), movimento que colocava a razão como forma de desenvolvimento humano. Paul Max Fritz Jahr, um teólogo alemão, publicou na revista Kosmos definindo a bioética como 'emergência de obrigações éticas não apenas com o homem, mas a todos os seres vivos'.

Nos séculos XIX e XX foram realizadas várias experiências consideradas desrespeitosas aos participantes, que na maioria das vezes eram pessoas de baixíssima renda, sendo considerados inferiores socialmente. Os pesquisadores justificavam seus atos afirmando que buscavam o bem da ciência. Alguns experimentos, de tão absurdos, se destacaram na história e foram imprescindíveis para o surgimento e a consolidação da bioética, que nasceu de uma necessidade.

Em 1930, na Alemanha, foi realizado um teste com a vacina BCG visando à prevenção da tuberculose. 100 crianças participaram do estudo sem o consentimento de seus responsáveis das quais 75 morreram durante o projeto. O fato ficou conhecido como “o desastre de Lübeck” e levou o ministro do Interior da Alemanha a estabelecer, em 1931, as Diretrizes para Novas Terapêuticas e Pesquisa em seres humanos. Infelizmente, este ato não foi suficiente para impedir as pesquisas abusivas que ocorreram no decorrer da Segunda Guerra Mundial.

Em 1932, teve início uma pesquisa sobre a história natural da sífilis, na cidade de Tuskegee (EUA). Os 399 negros que participaram da pesquisa não foram tratados quando a penicilina passou a estar disponível e também tiveram o acesso proibido ao tratamento. O estudo foi suspenso apenas em 1972, quando a imprensa denunciou a pesquisa. Durante quarenta anos, o estudo foi acompanhado e avaliado pelas autoridades sanitárias e gerou a publicação de diversos artigos científicos. Somente em 1997 o presidente Clinton pediu desculpas, em nome do governo, aos sobreviventes.

Durante a Segunda Guerra Mundial ocorreram outros casos relacionados à falta de bioética. Os nazistas promoviam a esterilização e o impedimento do casamento de pessoas de outras raças, o extermínio de doentes terminais e incuráveis e testes de doenças em hospitais psiquiátricos, asilos e penitenciárias, com o objetivo de estudo. Após a guerra, o Tribunal de Nuremberg (1945 – 1946) condenou os principais oficiais nazistas responsáveis pelos experimentos em seres humanos e deixou clara a necessidade de regularizar as pesquisas científicas, dando origem ao Código de Nuremberg.

Além de pesquisas em seres humanos, havia questões éticas também na experimentação animal e na prática clínica. O sofrimento sob o qual os animais eram submetidos nos estudos foi bastante questionado. Em relação à prática clínica, um exemplo foi o programa de diálise renal do Swedish Hospital (Seattle, EUA), em que houve a formação de um comitê para decidir quais pacientes seriam submetidos ao tratamento, pois não havia recursos disponíveis para que todos recebessem o atendimento.

Em 1971, com a publicação do livro 'Bioethics – Bridge to the Future' (Bioética – Ponte para o Futuro), houve um grande incentivo para a regularização da bioética. Nele, o autor Van Rensselaer Potter propõe “o termo Bioética como forma de enfatizar os dois componentes mais importantes para se atingir uma nova sabedoria, que é tão desesperadamente necessária: conhecimento biológico e valores humanos”. Em 1988, o professor Potter elaborou uma nova versão, mais ampla e de abrangência global para a palavra: “Bioética é a combinação da biologia com conhecimentos humanísticos diversos constituindo uma ciência que estabelece um sistema de prioridades médicas e ambientais para a sobrevivência aceitável”.

Desde então, a bioética ganhou seu espaço e têm sido cada vez mais respeitada e difundida no mundo.


No Brasil

O primeiro marco histórico da bioética no Brasil foi a aprovação da Resolução 01 de 1988 pelo Conselho Nacional de Saúde. Esta foi a primeira tentativa de criar uma regulamentação ética para pesquisas que envolvessem seres humanos. Embora essa iniciativa tenha sido importante, a resolução não teve um impacto significativo no mundo científico, possivelmente pela forma pouco participativa com que foi preparada, por não haver no país massa crítica que permitisse fazê-la valer.

Em 1993, foi publicado o primeiro número da revista “Bioética” pelo Conselho Federal de Medicina. Seu tema foi “AIDS e Bioética”, o qual sempre mobilizou grande parte da população e um número expressivo de ativistas sociais, que buscam por melhorias na qualidade da atenção aos doentes e infectados pelo HIV.

A Sociedade Brasileira de Bioética (SBB) foi criada em 18 de fevereiro de 1995. A bioética passou, então, a contar com uma organização comprometida com a sua divulgação.

Em 1996, o Conselho Nacional de Saúde aprovou a Resolução 196/96, que regulamentou a realização de pesquisas envolvendo seres humanos como sujeitos no Brasil. Ela tem contribuído grandemente na disseminação das reflexões sobre bioética no meio acadêmico.

Em 2004, foi estabelecida uma cátedra de bioética da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) na Universidade de Brasília. No ano seguinte, foi criado um mestrado em bioética no Centro Universitário São Camilo e, em 2009, foi criada a primeira turma do Programa de Mestrado e Doutorado em Bioética e Saúde Pública da Universidade de Brasília (UnB).

Por último, mas não menos importante, em 2008 foi aprovada a Lei Arouca, que disciplina o uso de animais em pesquisa.


Autor: Rodrigo Lara Santos

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